segunda-feira, 7 de junho de 2010

Pura poesia no ar...

Teu rosto estende-se como o sopro ausente destas
tardes litorais, o inocente abandono
a uma morte capaz de calar a própria morte.
Estou sem tempo nem tempo, à espera
de ti que não virás,

e há o mar, uma esplanada
de mesas verdes no centro da vila,
o travo amargo de um gin tónico
logo pela manhã.

Assim se recusa o milagre fugaz
que não quero nomear, uma ave
demorando-se no crepúsculo jovem
da minha idade fustigada pelo vazio.
Por ti cedo à tentação e à vergonha
de uns versos tão inúteis como amar-te.

Entretanto, o meu corpo vai
vacila talvez nas esquinas demasiado brancas
destas ruas, arrasta-se
por tabernas de pescadores em busca
de um inferno menos cruel. Mas nada equivale
ao olhar distante com que trucidas
o meu mais puro silêncio.

Sei destes naufrágios, uma
espécie de coração errando nos dias.
Não, não há consolo maior do que
a fúria incontida de beber até que nenhuma
gota de álcool reste no mundo
- enevoar com raiva e paixão
a certeza de te perder sem te ter tido.

Manuel de Freitas

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