domingo, 26 de outubro de 2014

NIETZSCHE


NIETZSCHE



“Ninguém aprende, ninguém aspira, ninguém ensina - a suportar a solidão.”
Friedrich Wilhelm Nietzsche
É o filósofo alemão que mais admiro.Tanto pelo seu pensamento, quanto pela doença contra qual lutou durante toda a sua vida, fazendo com que se tornasse quase um especialista no assunto.
Em 1856 sofreu as primeiras crises de dores de cabeça. Aos 14 anos, recebe uma bolsa de estudos para o Colégio Real de Pforta, um internato localizado distante da residência familiar. E foi exatamente nesse ambiente,  onde ele pela primeira vez, fica distante de sua família e enfrenta a solidão, encarando de frente a morte de seu pai, compondo música sacra, poemas e algumas autobiografias. 

Após a leitura de “ A Essência do Cristianismo” , de Ludwig Feuerbach, na década de 1860, Nietzsche começa a reagir contra a moral cristã.
“Sede fiéis à Terra”, dizia ele, e não acreditais naqueles que vos falam de esperanças além deste mundo!”
“ Solidão, jejum e repressão sexual- forma típica da qual surge a neurose religiosa. Sumo gozo e suma devoção em alternância. Mirada de estranho perante si:como se fossem vidro ou 2 pessoas.”
“O cristianismo tomou o partido de tudo o que é fraco, baixo, incapaz, e transformou em um ideal a oposição aos instintos de conservação da vida saudável; e até corrompeu a faculdade daquelas naturezas intelectualmente poderosas, ensinando que os valores superiores do intelecto não passam de pecados, desvios ‘tentações’. O mais lamentável exemplo: a concepção de Pascal, que julgava estar a sua razão corrompida pelo pecado original; estava corrompida sim, mas apenas pelo seu cristianismo!”.

Em Pforta, Nietzsche recebe uma sólida formação humanista,mas seus distúrbios continuaram a incomodá-lo.
Em 1864, matricula-se em Teologia e Filologia na Universidade de Bonn. E é graças a seu amigo Ritschl que descobre sua vocação para filólogo, partindo então para Leipzig em 1865, onde irá estudar Filologia Clássica durante 4 anos. Nesse período, escreve inúmeras resenhas, estuda Homero, Demócrito,e Schopenhauer.

Após deixar o serviço militar devido a uma queda de cavalo, regressa Leipzig, onde conhece Richard Wagner, que se torna um grande amigo. Por recomendação de Ritschl, obtém a Cátedra de Folologia Clássica na Universidade da Basiléia. Após um ataque fulminante a um livro seu em 1872 “Tragédia no Espírito da Música”, feito pelo filólogo Moellendorf,Nietzsche, teve o número de alunos reduzido e houve uma pronunciada queda na venda de seus livros.Mas em contrapartida, ele reagiu a essa polêmica ao seu primeiro livro publicando panfletos onde ele faz inúmeras considerações, importantíssimas, sobre as questões educacionais:
“Uma boca que fala, muitos ouvidos e menos da metade de mãos que escrevem- eis o aparelho acadêmico aparente.”
‘A Universidade não está voltada para a questão filosófica, mas para a prova de Filosofia.”
““O ceticismo é a mais espiritual expressão de uma complexa constituição fisiológica, que na linguagem corrente chamam de neurastenia e debilidade; ele surge todas vez que se cruzam, de modo súbito e decisivo, raças por longo tempo separadas. A nova geração, como que herda no sangue medidas e valores diversos, nela tudo é inquietude, perturbação, tentativa, dúvida; as melhores forças inibem, as próprias virtudes não permitem uma à outra crescer e se fortalecer, no corpo e na alma faltam equilíbrio, gravidade, segurança perpendicular”.
“Os pais fazem dos filhos, involuntariamente, algo semelhante a eles – a isso denominam “educação” -; nenhuma mãe duvida, no fundo do coração, que ao ter seu filho pariu uma propriedade; nenhum pai discute o direito de submeter o filho aos seus conceitos e valorações”.
“Com ajuda da moralidade do costume e da camisa-de-força social, o homem foi realmente  tornado confiável”.

Portador de uma saúde sempre frágil, sua vida sempre esteve entre a cátedra e a cama.
Desapontado com a medicina, Nietzsche começa a estudar sozinho, e toma sob sua responsabilidade seu tratamento.E aí está  seu maior mérito , entre tantos.
 

Em janeiro de 1879, um ano de grande problemas de saúde, vejam como ele descreve seu estado físico e mental:
” Estatística: tive 118 sai  de ataques graves, os leves, não contei[...]Minha existência é um fardo terrível:  já teria me livrado dela há muito tempo, se não tivesse feito as mais instrutivas provas e experimentos, no terreno ético-espiritual, exatamente nesse estado de sofrimento e quase total renúncia- essa alegre sede de conhecimento eleva-me às alturas onde triunfo sobre todos os martírios e toda desesperança. No geral, estou mais feliz do que jamais estive em toda minha vida: apesar de tudo! Uma dor constante, uma sensação de enjôo semelhante à que se tem no mar, durante horas, uma semiparalisia, que me dificulta a fala, alternando com terríveis crises ( a última me fez vomitar durante 3 dias e 3 noites, eu só queria morrer!). Não poder ler! Escrever raramente! Não poder ver ninguém! Não poder ouvir música! Caminhar sozinho, respirar o ar das montanhas, comer ovos, tomar leite.Todo remédio para trazer alívio tornou-se ineficaz. O frio me fez mal. Nas próximas semanas, irei para o sul começar minha existência de andarilho. Meu consolo são meus pensamentos e minhas perspectivas entre minha felicidade e trabalho, corpo e dor, a superação da doença pelo trabalho do pensamento.”
 

Aí está uma fração que é o pensamento de Nietzsche. Um homem, um pensador, que lutou até o fim, pelo o que acreditava e contra os males que sempre o acometiam.

"É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante"
                                                       Friedrich Wilhelm Nietzsche

Karla Julia

Marcadores: ,