Carpinejando...
"A ROUPA PARA DORMIR QUE NOS ACORDA"
A mulher mais sexy não dorme de baby doll.
Não dorme de camisola.
Não dorme de pijama.
Não é a que dorme nua tampouco.
É a que dorme com as roupas emprestadas de seu homem. Aquela que veste sua camiseta.
Você vê sua roupa nela e fica com vontade de botar no dia seguinte, deseja levar o perfume futuro adentro. Você lembrará dela ao escolher o que vestir de manhã, não somente ao se despir de noite.
É uma armadilha para a dependência. Para criar vínculo e intimidade.
A mulher que dorme com sua roupa devolverá a crença do sexo no casamento e o gosto pela rotina, além de ser uma prova incontestável de beleza. Pois, apesar de seu traje, ela permanece linda. Nem as medidas masculinas estragam sua volúpia. Ela transforma a camiseta larga em um vestido curto, sofisticando a simplicidade.
A mulher fatal não é a que encarna figurino de sex shop, que está armada para o crime.
A mulher fatal não é a que realiza espetáculo e pole dance.
A mulher fatal não será previsível com rendas e cinta-liga, não aparecerá rebolando com chicote e algemas.
A mulher fatal é absolutamente caseira. Ela disfarça seu desejo, não entrega sua intenção de imediato.
Jamais imaginará que terá sexo com alguém que colocou sua camiseta.
Mas ela engana para impressionar, é uma pureza que excita, uma ingenuidade que desconcerta.
Com a despretensão de uma peça emprestada, ela não segue roteiro, faz com que a transa seja inesperada.
Você cogitará que ela quer apenas dormir, mas ela acordará seus instintos selvagens.
É um golpe de estado. Uma impressionante virada de mesa. Na verdade, uma virada de cama.
A mulher que toma sua roupa para dormir arma um ataque caseiro, uma invasão camuflada. Finge que não se interessa para assumir o controle da situação.
Uma mulher que pega sua roupa para dormir irá enlouquecê-lo (o que é mais sensual do que o improviso?).
Ela vai dizendo nas entrelinhas: “Enquanto não tenho seu corpo, uso sua roupa”.
Não existe cena mais encantadora do que uma mulher que rouba sua roupa para dormir. É o começo de todos os saques. Roubará sua vida dali por diante.
Arte: Isabelle Tuchband
Publicado no jornal Zero Hora - Texto e Coluna de Fabrício Carpi Nejar - Revista Donna, p. 6 - Porto Alegre (RS), 21/07/2013 Edição N° 17498
Marcadores: Artigos, Literatura
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