Dica de Filme: 'Poucas Cinzas"...Um filme sobre Garcia Lorca, Salvador Dalí e Luís Buñuel
Um filme com Robert Pattinson(Salvador Dali),Xavier Beltrán e Luis Buñuel( Matthew McNulty)
"Uma amizade que rompeu todos os limites. Uma verdade que tiveram que ocultar..."
Madri,1922, em plena revolução cultural (a era do jazz, Freud a avant-garde. Salvador Dalí (Robert Pattinson , o vampiro de Eclipse, dando um banho de interpretração, maravilhoso trabalho!) entra para a faculdade . É lá que chama a atenção, por conta de seu temperamento,determinado, ao mesmo tempo, tímido e exibicionista, de Federico Garcia Lorca (Javier Beltrán) e Luis Buñuel (Matthew McNulty), membros da elite social da Universidade. E é lá também que a relação entre Lorca e Dali irá se transformar numa paixão só vinda a público muitos e muitos anos depois, na época da morte de Dalí .
.Uma história verídica transformada em um filme digno, com atores danto um show de interpretação, e com uma reprodução fidelíssima da época. Sensacional!!
.Uma história verídica transformada em um filme digno, com atores danto um show de interpretação, e com uma reprodução fidelíssima da época. Sensacional!!
Karla Julia
Ode a Salvador Dali
Uma rosa no alto do jardim que tu desejas.
Uma roda na pura sintaxe do aço.
Desnuda a montanha de névoa impressionista.
Os grises observando suas balaustras ultimas.
Os pintores modernos, em seus brandos estúdios,
cortam a flor asséptica da raiz quadrada.
Nas águas do Sena um iceberg de mármore
esfria as janelas e dissipa as eras.
O homem pisa forte nas ruas lajeadas.
Os cristais se esquivam da magia e do reflexo.
O governo fechou as lojas de perfume.
A máquina eterniza seus compassos binários.
Uma ausência de bosques, biombos e sobrecenhos
erra pelos telhados das casas antigas.
O ar pule seu prisma sobre o mar
e o horizonte sobe como um grande aqueduto.
Marinheiros que ignoram o vinho e a penumbra
decapitam sereias nos mares de chumbo.
A Noite, negra estátua da prudência, tem
o espelho redondo d lua em sua mão.
Um desejo de formas e limite arrebatada.
Vem o homem que olha com o metro amarelo.
Vênus é uma branca natureza morta
e os colecionadores de mariposas fogem.
*
Cadaqués, no fiel da água e da colina,
eleva escalinatas e oculta caracóis.
As flautas de madeira pacificam o ar.
Um velho Deus silvestre dá frutas aos meninos.
Seus pescadores dormem, sem sonho, na areia.
Em alto-mar lhes serve de bússola uma rosa.
O horizonte virgem de lencinhos feridos
junta os grandes vidros do peixe e da lua.
Uma dura coroa de brancos bergantins
cinge frontes amargas e cabelos de areia.
As sereias convencem, mas não sugestionam,
e saem mostrando um copo de água doce.
*
Alma higiênica, vives sobre marmores novos.
Foges à escura selva de formas incríveis.
Tua fantasia chega onde chegam tuas mãos,
e gozas o soneto do mar em tua janela.
O mundo tem surdas penumbras e desordem,
nos primeiros términos que o humano frequenta
Porém já as estrelas ocultando paisagens
assinalam o esquema perfeito de suas órbitas.
A corrente do tempo se remansa e se ordena
nas formas numéricas de um século e outro século.
E a Morte vencida se refugia tremendo
no circúloestreito do minuto presente.
Ao pegar tua palheta, com um tiro em uma asa,
pedes a luz que anima a copa da oliveira.
Larga luz de Minerva, construtora de andaimes,
onde não cabe o sonho nem sua flora inexata.
Pedes a luz antiga que fique na frente,
sem baixar a boca nem o coração do homem.
Lua que temem as vides estranháveis de Baco
e a força sem ordem que leva a água curva.
Fazes bem em pôr bandeirolas de aviso,
no limite escuro que relumbra a noite.
Como pintor não queres que te abrande a forma
o algodão cambiante de uma nuvem imprevista.
O peixe no aquário e o pássaro na gaiola.
Não queres inventa-lo no mar ou no vento.
Estilizas ou copias depois de ter olhado
com honestas pupilas seus corpinhos ágeis.
Amas uma máteria definida e exata
onde o fungo não possa armar acampamento.
Amas a arquitetura que constrói no ausente
e admites a bandeira como uma simples pilhéira.
Diz o compasso de aço seu curto verso elástico.
Desconhecidas ilhas já a esfera.
Diz a linha reata seu vertical esforço
e os sábios cristais cantam suas geometrias.
*
Mas também a rosa do jardim onde vives.
Sempre a rosa, sempre, norte e sul de nós!
Tranquila e concentrada como uma estátua cega,
ignorante de esforços soterrados que causa.
Rosa pura que limpa de artifícios e esboços
e nos abre as asas tênues do sorriso.
(Mariposa pregada que medita seu vôo.)
Rosa do equilíbrio sem dores buscadas.
Sempre a rosa!
*
Oh! Salvador Dalí, de voz azeitonada!
Digo o que me dizem a tua pessoa e teus quadros.
Não te louvo o imperfeito pincel adolescente,
mas canto a firme direção das tuas flechas.
Canto teu belo esforço pelas luzes catalãs,
teu amor ao que tem explicação possível.
Canto teu coração astronômico e terno,
de baralha francesa e sem nenhuma ferida.
Canto a ânsia de estátua que seus personagens sem trégua,
o medo à emoção que te aguarda na rua.
Canto a sereiazinha do mar que te canta
montada na bicicleta de corais e conchas.
Mas antes de tudo canto um comum pensamento
que nos une nas horas escuras e douradas.
Não a Arte a luz que nos cega os olhos.
É primeiro o amor, a amizade e a esgrima.
É primeiro o quadro que paciente desenhas
o seio de Tereza, a de cútis insone,
o apertado cacho de Matilde, a ingrata,
nossa amizade pintada como um jogo de oca.
Sinais datilográficos de sangue sobre o ouro
risquem o coração da Catalunha eterna.
Estrelas como punhos sem falcão te relumbram,
enquanto tua pintura e tua vida florescem.
Não olhes a clepsidra com asas membranosas,
nem a dura gadanha das alegorias.
Veste e desnuda sempre o teu pincel no ar,
ante o mar povoado com barcos e marinheiros.
Federico Garcia Lorca
Marcadores: Cinema, Literatura, Poesia, Vídeos
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