DICA DE LIVRO
Foi com grande prazer que recebi um exemplar do livro solo de poemas “A Travessia das Eras” de André Galvão, Licenciado em Letras (UESB), Mestre em Literatura (UEFS) e Doutor em Ciências da Educação (Universidade do Minho – Portugal).
Proveniente da linhagem de poetas cuja preocupação maior são as feridas de nossa sociedade, André comprova sua excelência com versos de muita sensibilidade, mas que fazem, ao mesmo tempo, uma reflexão do “homem da cidade”, como no caso de “Urbanicômio”:
Criticamos,
e somos iguais
aos que criticamos
aos que criticamos
Condenamos,
e somos iguais
aos que condenamos
e somos iguais
aos que condenamos
Em nossa loucura
há um lapso,
uma relação desacertada
há um lapso,
uma relação desacertada
E a cidade anda,
escreve torto
em linhas tortas
escreve torto
em linhas tortas
À noite, os ônibus voam,
encontram espaço
entre o amarelo e o vermelho
encontram espaço
entre o amarelo e o vermelho
E as luzes distantes iluminam o asfalto
por onde desliza
o Opala amarelo de rodas largas
por onde desliza
o Opala amarelo de rodas largas
De longe, as luzes enganam,
clareiam a pista,
escurecem o canteiro
clareiam a pista,
escurecem o canteiro
A nossa loucura
não é contemplar a cidade,
é tentar entendê-la.
não é contemplar a cidade,
é tentar entendê-la.
O livro nos leva a uma viagem cosmo interior do poeta,
onde em meio à desilusão, somos convidados a nos perdermos também.
Nele, podemos constatar a falta de esperança, retrato fiel da crua realidade, cheia de preconceitos e falsos valores.É desse esforço de desvelamento, solitário, intransferível, na maioria das vezes, de que trata o poema abaixo:
onde em meio à desilusão, somos convidados a nos perdermos também.
Nele, podemos constatar a falta de esperança, retrato fiel da crua realidade, cheia de preconceitos e falsos valores.É desse esforço de desvelamento, solitário, intransferível, na maioria das vezes, de que trata o poema abaixo:
“Sonhos”
Sonhos com um mundo
que eu nunca verei.
As sombras do passado iluminam
mais do que os holofotes do presente
que eu nunca verei.
As sombras do passado iluminam
mais do que os holofotes do presente
O precipício avança sobre nós,
inebriados com nossas vaidades,
consumidos freneticamente
por vícios insustentáveis
inebriados com nossas vaidades,
consumidos freneticamente
por vícios insustentáveis
Dor, desesperança, medo
nada mais consigo ver
nos espelhos quebrados
que refletem pesadelos
Estamos condenados ao fastio
de nossas futilidades sutis,
flertando com cárceres de vidro
que não conseguimos quebrar
nada mais consigo ver
nos espelhos quebrados
que refletem pesadelos
Estamos condenados ao fastio
de nossas futilidades sutis,
flertando com cárceres de vidro
que não conseguimos quebrar
E o que nos resta enfim
é torcer para acordar de vez
do sonho que nunca sonhamos,
enquanto dormíamos de olhos abertos
é torcer para acordar de vez
do sonho que nunca sonhamos,
enquanto dormíamos de olhos abertos
As minhas esperanças no futuro
se perderam junto com a inocência
de acreditar que a raça humana
produzirá um dia finalmente
um mundo que seja possível
viver em paz.
se perderam junto com a inocência
de acreditar que a raça humana
produzirá um dia finalmente
um mundo que seja possível
viver em paz.
E qual seria então o caminho para uma redenção?
Porque é no atravessar das eras que leitor e poeta farão,
suas catarses e quem sabe, um novo mundo onde as injustiças,
e a tirania do egoísmo possam ser achacadas de nossos caminhos.
Porque é no atravessar das eras que leitor e poeta farão,
suas catarses e quem sabe, um novo mundo onde as injustiças,
e a tirania do egoísmo possam ser achacadas de nossos caminhos.
Assombro
Estranho viver nesse mundo raso,
inundado de mentiras tão profundas
sem metafísica, inspiração ou fé
que removam as montanhas da ignorância.
inundado de mentiras tão profundas
sem metafísica, inspiração ou fé
que removam as montanhas da ignorância.
Obrigada poeta André, por ter me concedido o privilégio de
ler seus versos.
Karla Julia
Marcadores: Artigo, Literatura, Poesia
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