sábado, 11 de julho de 2015

RECORDANDO UM CLÁSSICO DA ENOLOGIA MUNDIAL

      La Rioja    

Qual amante dos vinhos de excelência não ouviu falar de La Rioja? De forma particular, Rioja é o termo que se atribui, sobretudo, ao vinho da cepa Tempranillo, com Denominação de Origem Controlada (D.O.C.), presente também em Portugal onde é conhecida como Aragonez ou Tinta Roriz. Na Espanha, a terminologia está invariavelmente associada à Comunidade Autônoma de La Rioja, reconhecida mundialmente por seus exemplares de grande prestígio, especialmente de cepas tintas. Tecnicamente, atribui-se também ao conjunto patrimonial alguns vinhos oriundos de Navarra e da Província de Álava, no País Basco. Como se costuma dizer, essa região é similar em importância às terras de Bordeaux e da Bourgogne na França, tão perto delas está geograficamente.


Caracterizada por topografia montanhosa, ela está basicamente associada ao complexo serrano da Cantabria. Mas o grande repositório mundial de vinhos riojanos está subdividido em três partes: a Sierra de Toloño, entre as Conchas de Haro e Peñacerrada, outra zona sem sobrenome chamada unicamente Sierra da Cantabria e a Sierra de Codés. Desde a chamada Llanada Alavesa estende-se um amplo vale situado no noroeste de Álava que é o último limite natural antes de adentrar-se nas várzeas da grande Rioja Alavesa, no Vale do Ebro.


Diz-se que, com o advento da ‘filoxera’ na Europa, durante a década de 1870, e dos prejuízos decorrentes dessa praga propagada por um inseto homônimo, muitos viticultores se trasladaram à Espanha e encontraram nas terras de La Rioja condições muito diferentes de outras paragens produtoras, mas também uma oportunidade de criação e desenvolvimento de excelentes vinhos. A doença não demorou a alastrar-se pelas terras espanholas, obrigou os produtores estrangeiros a retornar aos seus solos de origem, deixando para trás, contudo, as ideias e a metodologia tradicionais da vizinha França.
                                   
                                   

La Rioja possui características climáticas excepcionais. Os vinhedos estão a 450 metros acima do nível do mar e dispõem de chuvas abundantes, longas primaveras e outonos tardios, verões longos e tórridos. O vinho que lá se produz é distinto de outras variedades espanholas, mas muito bem elaborado, extremamente delicado e fino, com um ligeiro gosto adocicado e tostado.

                                                                      
Na chamada Rioja Alta se cultivam as variedades Tempranillo, Mazuelo, Graciano e Garnacha, todas de uvas tintas, além de Viura e Malvasía, de cepas brancas. Talvez a mais célebre, Tempranillo, se utiliza como varietal e também como líder para refinados ‘blends’, de constituição equilibrada, robustos, ácidos e aromáticos, muito indicados para a ‘crianza’, ou seja, o envelhecimento. Do ponto de vista alcoólico, os tintos vão de 10.5° a 12°, segundo a origem específica. Os brancos, ligeiramente menos alcoólicos, são secos e bastante aromáticos.


Na zona classificada como Rioja Baja predomina a variedade Garnacha, cujo produto final adquire graduação elevada, de 14° a 16°, certa pastosidade, pouca acidez e paladar suave.


A terceira subzona, conhecida por Rioja Alavesa, é a longa e estreita comarca que surge ao norte do rio Ebro. É a parte mais reguardada, pela proximidade com as Sierras Sántabras, assim como por sua singular orientação geográfica que permite maior insolação. As variedades de uva são as mesmas da Rioja Alta, com resultados muito equilibrados, grande densidade e corpo, aroma e gosto peculiares. Sua graduação média é de 14°, também propícios ao envelhecimento.


Para registro, vale lembrar que durante décadas houve apenas sete variedades de uvas presentes em La Rioja e autorizadas como classificação de origem por seu Conselho Regulador: quatro tintas (Tempranillo, Garnacha, Mazuelo e
Graciano) e três brancas (Viura, Malvasía y Garnacha branca). Em meados da década de 2000, o órgão responsável aprovou, pela primeira vez desde sua criação em 1926, a incorporação de novas variedades na região: seis brancas (Chardonnay, Sauvignon blanc, Verdejo, Maturana branca, Tempranillo branco e Turruntés) e três tintas (Maturana tinta, Maturana parda y Monastel). Atualmente, muitos dos vinhos Rioja têm tradicionalmente misturado uvas das três regiões principais, mas lentamente se afirmam os exemplares que utilizam uvas de uma única sub-região, a fim de manter a tradição dos varietais.
                                                   
         
 Como o tema interessa a catadores, não se pode deixar de falar nos ‘maridajes’. Como se sabe, o verbo ‘maridar’ foi cunhado na Espanha para descrever metaforicamente o casamento entre um determinado prato de comida e o vinho que se elege para acompanhá-lo. Como única regra, o vinho não deve se impor ao prato nem o prato ser de mais enérgico sabor que o vinho.
Em relação aos de La Rioja, os brancos jovens e secos combinam perfeitamente com saladas de legumes, ostras e mariscos. Os secos envelhecidos em barril se adaptam melhor aos pescados mais gordurosos e aos animais de carne branca em forma de assados. Os vinhos rosados são especiais para aperitivos e pratos ligeiros. E os tintos, naturalmente mais cobiçados, casam com o que é desde logo habitual: os chamados gran reserva são especiais na companhia de carnes vermelhas, animais de caça, queijos curados e presuntos crus que efetivamente os mereçam; os envelhecidos se equilibram bem com os ‘platos de cuchara’, aqueles com caldo, além das vitelas mais gordurosas, carnes de cordeiro e de porco; e os tintos jovens se levam bem com guisados de verduras, carnes vermelhas e queijos semicurados.
Não obstante essas sugestões gastronômicas dos entendidos, apenas indicativas, tudo nessa combinação dependerá do gosto do consumidor e da sensibilidade de seu próprio paladar, para os quais não há regras estritas. A grande síntese sobre os vinhos referidos, a determinar tudo em relação ao seu agradável consumo sob qualquer enfoque, são a elegância, a originalidade e o caráter que caracterizam os grandes Rioja 'españoles.'
                            
                                      Silvio Assumpção  
   
                                  

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