sábado, 5 de setembro de 2015

A música estimula mudança de sabor do vinho

O sommelier Douglas Würz destacou recentemente uma matéria publicada na Revista Adega, em agosto passado, referente à pesquisa realizada pelo professor Charles Spence, da Universidade de Oxford, segundo a qual as características do vinho são modificadas de acordo com a música do ambiente. Após diversos estudos, Spence pôde notar que alguns ritmos musicais interferem no comportamento e faz com que pessoas sejam remetidas a diferentes sabores (doce, salgado, ácido ou amargo), quando provam vinho ouvindo determinada música.

Conforme, portanto, o neurocientista e fisiologista experimental inglês, notas de piano, por exemplo, costumam estar associadas a aromas de damasco, frutas vermelhas e baunilha. Já estilos mais pesados de rock remetem a aromas almiscarados. Propõe também que instrumentos de sopro remetem à acidez.

 Outro destaque foi notar que alguns vinhos degustados às cegas, sob a influência de estilos musicais variados, foram descritos e identificados de forma equivocada pelos provadores profissionais e associados a rótulos diferentes.

        



Sob o tema, pronuncia-se igualmente o sommelier Danilo Schirmer, quem recorda que a música e o vinho sempre andaram juntos: um dueto de sucesso desde a época de Dionísio e Baco. Segundo ele, assim como o vinho, a música aguça nossos sentidos e sentimentos, chegando até a nos tocar a alma. Essa combinação encanta, apaixona e aproxima as pessoas. Dessa forma, é possível harmonizar a música e o vinho de acordo com o momento e a companhia. Ter essa percepção pode ser determinante para atingir um elevado estado de espírito.

Atentos a esse comportamento, recorda Schirmer que, há alguns anos, psicólogos da escocesa Heriot-Watt University realizaram também uma pesquisa que resultou na seguinte conclusão: enquanto se degusta um vinho, a música ouvida pode influenciar na percepção do sabor. As músicas mais pesadas e encorpadas, por exemplo, sugeririam robustez nos vinhos das uvas da família Cabernet. Já as músicas energéticas e agitadas realçariam as características refrescantes dos exemplares da uva Chardonnay e dos demais vinhos brancos e espumantes. Afinal, uma derivação ou complementação dos estudos de Charles Spence.

Segundo os responsáveis pela pesquisa, inclusive, seria recomendável que os produtores colocassem algumas recomendações de músicas nos contrarrótulos dos seus exemplares engarrafados.  E Danilo Schirmer chega mesmo a recomendar ou sugerir composições musicais, de diferentes gêneros, que harmonizariam perfeitamente com determinadas uvas, a saber:

• Cabernet Sauvignon: All along the watch tower (Jimi Hendrix), Honky Tonk woman (Rolling Stones), Live and let die (Paul McCartney and Wings), Kashimir (Led Zeppelin), Carmina Burana (Carl Orff);

• Chardonnay: Disease (MatchboxTwenty), You could be mine (Guns and Roses), Ever lasting love (Gloria Estefan), Love generation (Bob Sinclar), Just can't get enough (Nouvelle Vague);

• Merlot: Paint in black (Sixth Finger), Creep (Radiohead), P.D.A. (John Legend), Stronger than me (Amy Winehouse), Come undone (Duran Duran).

Nesta curiosa perspectiva, com todo o apreço que nos merecem os vinhos brasileiros, cada vez mais aprimorados e consagrados internacionalmente
só faltou concluir que o samba só rima com cachaça pura, caipirinha ou com cerveja. Será isso mesmo?

Um brinde à diversidade!
               

                           Silvio Assumpção

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