O poeta do cotidiano, das coisas simples e marcantes da vida: do amor, da infância, da solidão e da liberdade.
Prévert viu a guerra com seu circo de horrores passar e deixar suas marcas definitivas nos corações de seus contemporâneos.
Escreveu vários poemas contra a hipocrisia da burguesia, os métodos retrógrados de ensino e a religião como instituição nacional.
Karla Julia
Barbara
Rappelle-toi Barbara
Il pleuvait sans cesse sur Brest ce jour-là
Et tu marchais souriante
Epanouie ravie ruisselante
Sous la pluie
Rappelle-toi Barbara
Il pleuvait sans cesse sur Brest
Et je t'ai croisée rue de Siam
Tu souriais
Et moi je souriais de même
Rappelle-toi Barbara
Toi que je ne connaissais pas
Toi qui ne me connaissais pas
Rappelle-toi
Rappelle-toi quand même ce jour-la
N'oublie pas
Un homme sous un porche s'abritait
Et il a crié ton nom
Barbara
Et tu as couru vers lui sous la pluie
Ruisselante ravie épanouie
Et tu t'es jetee dans ses bras
Rappelle-toi cela Barbara
Et ne m'en veux pas si je te tutoie
Je dis tu à tous ceux que j'aime
Meme si je ne les ai vus qu'une seule fois
Je dis tu à tous ceux qui s'aiment
Même si je ne les connais pas
Rappelle-toi Barbara
N'oublie pas
Cette pluie sage et heureuse
Sur ton visage heureux
Sur cette ville heureuse
Cette pluie sur la mer
Sur l'arsenal
Sur le bateau d'Ouessant
Oh Barbara
Quelle connerie la guerre
Qu'es-tu devenue maintenant
Sous cette pluie de fer
De feu d'acier de sang
Et celui qui te serrait dans ses bras
Amoureusement
Est-il mort disparu ou bien encore vivant
Oh Barbara
Il pleut sans cesse sur Brest
Comme il pleuvait avant
Mais ce n'est plus pareil et tout est abîme
C'est une pluie de deuil terrible et desolée
Ce n'est même plus l'orage
De fer d'acier de sang
Tout simplement des nuages
Qui crèvent comme des chiens
Des chiens qui disparaissent
Au fil de l'eau sur Brest
Et vont pourrir au loin
Au loin très loin de Brest
Dont il ne reste rien.
BÁRBARA
(Dizem que um poema traduzido é como beijar numa janela se vidro, mas aí vai uma tentativa)
Você se lembra, Bárbara ?
Chovia sem parar em Brest, naquele dia
E você andava sorridente,
alegre, deslumbrada, molhada
debaixo da chuva.
Lembra, Bárbara
chovia sem parar em Brest
E eu lhe encontreina rua de Siam
Você sorria...
e eu sorria também.
Voc~e se lembra Bárbara?
Você que eu não conhecia
Você que não me conhecia
Lembra ,Bárbara
Lembra daquele dia
Não esqueça
Um homem que se abrigava numa estrada
e ele gritou seu nome:
Bárbara!
E você correu ao encontro dele
molhada, deslumbrada, feliz
E você se jogou nos braços dele
Lembra disso Bárbara?
E não me queira mal, se falo “você”
Eu digo “você” a todas as pessoas que amo.
Mesmo se eu as vi apenas uma vez.
eu digo “você’ a todos que se amam
Mesmo se eu não os conheço
Lembra, Bárbara
Não esqueça
esta chuva calma e feliz
sobre seu rosto feliz
aquela chuva sobre o mar
sobre o quartel
sobre o bar d’Ouessant
Ah Bárbara,
Que babaquice a guerra
onde você está agora
debaixo dessa chuva de ferro
fogo, ácido e sangue
E aquele que se abraçava
amorosamente
será que está morto ou desaparecido ou talvez vivo.
Oh Bárbara
Chove sem parar em Brest
Como chovia antes
Mas não é mais a mesma coisa, está tudo estragado
E uma chuva de luta, terrível e dissolado.
Não é mais o temporal
de ferro e sangue
São simplesmente nuvens
Que morrem como cachorros
dos cachorros que desaparecem
no rumo da água sobre Brest
e vão apodrecer longe
muito longe de Brest
da qual não sobra nada.
Tradução:Karla Julia
DÉJEUNER DU MATIN
Il a mis le café
Dans la tasse
Il a mis le lait
Dans la tasse de café
Il a mis le sucre
Dans le café au lait
Avec la petite cuiller
Il a tourné
Il a bu le café au lait
Et il a reposé la tasse
Sans me parler
Il a allumé
Une cirarrette
Il a fait des ronds
Avec la fumée
Il a mis les cendres
Dans le cendrier
Sans me parler
Sans me regarder
Il s’est levé
Il a mis
Son chapeau sur sa tête
Il a mis
Son manteau de pluie
Parce qu’il pleuvait
Et il est parti
Sous la pluie
Sans une parole
Sans me regarder
Et moi j’ai pris
Ma tête dans ma main
Et j’ai pleuré
Jacques Prévert
CAFÉ DA MANHÃ
Jacques Prévert
Pôs café
na xícara
Pôs leite
na xícara com café
Pôs açúcar
no café com leite
Com a colherzinha
mexeu
Bebeu o café com leite
E pôs a xícara no pires
Sem me falar
acendeu
um cigarro
Fez círculos
com a fumaça
Pôs as cinzas
no cinzeiro
Sem me falar
Sem me olhar
Levantou-se
Pôs
o chapéu na cabeça
Vestiu
a capa de chuva
porque chovia
E saiu
debaixo da chuva
Sem uma palavra
Sem me olhar
E eu,
Eu pus minha cabeça entre as mãos
e chorei.
Tradução: Karla JuliaMarcadores: Artigo, França, Literatura, Poesia