Teve grande repercussão nos meios especializados a última etapa da amostra internacional dos vinhos uruguaios ao longo de 2015, desta vez no Brasil.
Depois da participação na International Trade Fair for Wine and Spirits em Düsseldorf, em março (ProWein), na Internatioanl Wine and Spirits Exhibition em Hong Kong, em junho (Vinexpo), e no US Tannat Tour realizado em Boston, Washington e Nova York em maio último, as ‘family-owned wineries’ uruguaias, auspiciadas pelo Instituto Nacional de Vitivinicultura (INAVI) e pelo Ministerio de Relaciones Exteriores, levaram ao Rio de Janeiro e a São Paulo o melhor de sua produção recente, no intuito de manter o interesse do mercado brasileiro que, não obstante as dificuldades conjunturais, representa hoje o mais importante destino exportador para os vinhos do Uruguai, seguido pelos Estado Unidos.
O foco da promoção concentrou-se nas duas principais cidades do País, não só por seus altos índices de consumo próprio como também por serem importantes centros distribuidores para as demais regiões. Nessa perspectiva, o público em geral, a imprensa, os comerciantes e distribuidores de bebidas finas e as grandes entidades gastronômicas brasileiras puderam desfrutar do privilégio degustativo de uma ampla gama de exemplares vinícolas (mais de 100 etiquetas) proporcionados pelas 24 bodegas de excelência que participaram de ambos os eventos. No Rio, em 17 de agosto último, o encontro foi na sede do Iate Clube da Avenida Pasteur, e em São Paulo, em 19 de agosto, no Hotel Intercontinental da Alameda Santos.
Naturalmente, a ênfase do Tannat Tasting Tour 2015 no Brasil foi a cepa insígnia do Uruguai. Como se sabe, essa variedade de uva se originou na França e foi introduzida no Uruguai por imigrantes espanhóis na segunda metade do Século XIX. Produz um vinho de sabor intenso, cor sumamente forte e grande corpo, que se adaptou muito bem na Banda Oriental do Rio da Prata (entre os paralelos de 30º e 35º de Latitude Sul) e é hoje referência internacional. Sobretudo pelos matizes de cor e sabor que seus produtores lograram obter localmente, em nove mil hectares de plantações concentradas no Departamento de Canelones, a cepa consagrou-se por suas excepcionais condições produtivas na década de 1990, depois da criação do INAVI, justamente com o fim de apoiar o seu desenvolvimento qualitativo e fomentar a divulgação do Tannat pelo mundo, junto aos mercados mais exigentes. Tudo com base nas vantagens comparativas que sua produção lograra no Uruguai, dele se tornando, junto com a carne bovina, uma verdadeira marca de identidade nacional.
No tour brasileiro marcaram presença as mais representativas empresas produtoras, a quase totalidade delas caracterizada como empreendimento familiar: Alto de la Ballena, Antigua Bodega Stagnari, Ariano Hnos, Artesana Winery, Bodegas Carrau, Castillo Viejo, De Lucca, Establecimiento Juanicó / Familia Deicas, Familia Irurtia, Familia Pisano, Familia Traversa, Filgueira, Garzón, Giménez Méndez, Juan Toscanini e Hijos, Marichal, Montes Toscanini, Narbona, Pizzorno Family Estates, Rodríguez Bidegain, Vinos Finos H. Stagnari, Viña Progreso, Viña Varela Zarranz e Viñedo de los Vientos.
Extremamente profissionais, os organizadores das mostras prepararam e distribuíram aos visitantes cariocas e paulistas uma luxuosa brochura, destacando a evolução da vitivinicultura uruguaia, a importância do Tannat, a distribuição geográfica dos diferentes terroirs onde se localizam os vinhedos e os dados das bodegas participantes, cada uma delas com seus contatos no Uruguai e importadores no Brasil. Além disso, o material de divulgação continha o registro de opiniões abalizadas sobre os vinhos uruguaios, com destaque para alguns formadores de opinião na matéria, de
renome internacional, como André Dominé, Alberto Antonini, Jancis Robinson, Evan Goldstein e Jonathan Ray.
Em São Paulo, ademais da mostra e da farta degustação, foi realizada também uma Master Class, sob o conceito de que o Uruguai e sua vitivinicultura estão se diversificando e enveredando por novos caminhos, com a mesma qualidade lograda pelo Tannat. Para tanto, foi importante a apresentação de um mix de vinhos já tradicionais com outras etiquetas mais recentes. Nesse adendo de divulgação foram destaque os seguintes rótulos, todos já dignos de consagrada referência entre os consumidores latino-americanos:
Ariano - Cuatro Gatos 2011
Artesana - Tannat Zinfandel Merlot 2013
Carrau - Amat 2009
De Lucca - Río Colorado 2008
Familia Deicas - Preludio 2009
Bodega Garzón - Albariño 2014
Irurtia - Km0 Río de la Plata Reserva Tannat 2012
Pizzorno - Primo 2008
Toscanini - Antología Tannat 2004
Viña Progreso - Sueños de Elisa Tannat 2011
Entre estes, destaco a verdadeira obra prima que é considerada uma das glórias do Uruguai, juntamente com os tradicionais Preludio e Monte Vide Eu. Trata-se do AMAT, da Casa Carrau. Um exemplar ideal para se conhecer realmente o que está fazendo o Uruguai nos segmentos de alta gama com a sua variedade estrela. Generoso no nariz, com matizes de frutas vermelhas e cerejas confeitadas, toques de baunilha e café, tudo adensado pela ‘crianza’ de 24 meses em barris franceses. Exibe na boca uma excelente estrutura, com doses de acidez que previnem harmonizam o sempre presente dilema dos Tannats, corrigindo os imperativos originários da versão francesa e impondo-se pela graciosidade e elegância que os trópicos lhe conferiram. Sempre com taninos firmes, mas sedosos.
Entre as bodegas participantes do Tannat Tasting Tour 2015 no Brasil, com toda admiração pelo trabalho e dedicação de cada uma delas ao longo de várias gerações de proprietários, não poderia deixar de assinalar com especial ênfase a Vinos Finos H. Stagnari. Além de toda a variedade de cepas exploradas, dos inúmeros rótulos varietais e extraordinários blends colocados à disposição dos admiradores uruguaios e estrangeiros, e da atenção personalizada com que a proprietária, Virgínia Moreira de Stagnari, esposa de Hector, recebe seus visitantes na bodega de La Puebla, nunca esquecer que são eles os produtores do vinho mais premiado do mundo em todos os tempos (mais de 40 medalhas nacionais e internacionais), o Tannat Viejo Terroir Salto, oriundo de La Caballada.
Finalmente, não custa recordar dados da Organização Mundial da Uva e do Vinho referentes aos números estatísticos consolidados de 2014: a superfície vitivinícola mundial alcançou no ano passado 7.573 milhões de hectares, com uma produção uvas de 737 milhões de quilos; a produção de vinhos engarrafados chegou a 270 milhões de litros. Os vinhos uruguaios representaram em 2014 nada menos do que 10% do mercado mundial. Não parece pouca coisa para um país que é o menor da América do Sul, com pouco mais de três milhões de habitantes distribuídos em 176.215 quilômetros quadrados de território.
Silvio AssumpçãoMarcadores: Adega, Artigos, Silvio Assumpção